Indígena é morto e outro baleado em comunidade pataxó na Bahia
11/03/2025
(Foto: Reprodução) Vitor Braz, de 53 anos, foi morto no município de Prado, no extremo sul do estado. Polícia investiga disputa entre fazendeiros e indígenas. Polícia investiga assassinato de Pataxó no extremo sul da Bahia
Um indígena de 53 anos morreu e outro de 25 anos ficou ferido após um ataque a tiros, na segunda-feira (10), no Território Indígena (TI) Barra Velha de Monte Pascoal, no extremo sul da Bahia.
O TI ocupa áreas dos municípios de Itabela, Itamaraju, Prado e Porto Seguro. Segundo a comunidade Pataxó, a morte ocorreu nesse último, a maior localidade da região. Já a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) apontam que a situação ocorreu em Prado. Um rio separa os dois municípios.
Em nota de repúdio enviada à imprensa, o Conselho de Caciques Pataxó (Conpaca) acusa "pistoleiros em um ataque orquestrado por fazendeiros" como autores crime. Segundo a Polícia, investigações preliminares apontam a ocorrência de uma troca de tiros entre os homens.
"Assim que tomamos conhecimento, nós seguimos para o local e lá foi realizado o primeiro levantamento. Pela dinâmica constatada, houve uma emboscada e uma troca de tiros no local. Inclusive, no bolso da vítima foram encontrados cartuchos de calibre 762, fuzil", afirmou o delegado Moisés Damasceno, coordenador regional da Polícia Civil.
Ainda conforme a autoridade policial, os autores estavam esperando de local privilegiado, que permitia que eles vissem a pista e a aproximação do carro onde a vítima estava.
"Essa morte tem toda relação com conflitos entre fazendeiros e indígenas, que disputam a retomada daquele território. É uma região que está bastante tensa", contou.
O homem morto foi identificado como Vitor Braga Braz. Já o baleado não teve o nome divulgado. Após o ataque, dois adolescentes desapareceram, no entanto, na noite desta terça-feira (11), o Cacique Zeca Pataxó Pataxó informou que os meninos foram localizados e passam bem. O indígena baleado passa bem.
Cacique denuncia ataques e assassinato de indígena na Bahia
Procurada pelo g1, a Polícia Civil disse que a Delegacia Territorial de Prado instaurou um inquérito policial para investigar a morte de Vitor Braga.
Já a SSP-BA informou, em nota, que a Força Integrada de Combate a Crimes Comuns Envolvendo Povos e Comunidades Tradicionais reforçou as ações ostensivas e de inteligência na Aldeia Terra Vista, no município de Prado, após "ocorrência que terminou com um indígena morto por disparo de arma de fogo". Os agentes buscam identificar e capturar os envolvidos.
Indígena pataxó, Vitor Braz foi morto a tiros no extremo sul da Bahia
Reprodução/Redes Sociais
Para o Conpaca, "essa nova tragédia se soma a um histórico de violações, ameaças e ataques sistemáticos contra o povo Pataxó". "Não aceitaremos que nossas terras sejam tomadas e que nossas vidas sejam ceifadas impunemente. Não entregaremos nosso território a invasores que, com suas mãos manchadas de sangue, tentam nos exterminar", disse o conselho.
Em vídeo enviado à TV Santa Cruz, afiliada da Rede Bahia na região, o cacique Antônio José acrescentou que agressões do tipo são frequentes na região. "Isso vem ocorrendo diariamente com o nosso povo porque não há demarcação do território".
Casa de cacique é incendiada em aldeia no extremo sul da Bahia
TV Santa Cruz
Ele denunciou ainda um incêndio registrado na casa do cacique da Aldeia Monte Dourado, no território Comuxatiba, na terça-feira. Imagens mostram a casa atingida pelas chamas, mas os danos ainda não foram estimados.
Os ataques chamaram atenção do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que também repudiou a violência. Em nota, o Cimi destacou que o assassinato antecedeu uma audiência pública em Brasília, que discutiu justamente a demarcação das Terras Indígenas Tupinambá de Olivença, Tupinambá de Belmonte e Barra Velha do Monte Pascoal. Segundo o conselho, cerca de 300 indígenas estão na capital federal para participar da atividade, promovida pelo Ministério Público Federal (MPF).
Diante da gravidade dos fatos, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) afirmou que irá cobrar a devida investigação do crime e, por consequência, a responsabilização dos envolvidos. Além disso, a pasta federal vai acionar a rede de proteção de crianças e adolescentes para que sejam intensificados os esforços na localização imediata dos jovens desaparecidos.
Território em disputa
A Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal ocupa um território de 52,7 mil hectares, com abrangência nos municípios de Itabela, Itamaraju, Prado e Porto Seguro. O Cimi ressalta que, diante da morosidade no processo demarcatório e da falta de espaço na pequena área reservada, os Pataxó precisaram intensificar as reivindicações pela terra. A entidade pontua que a reação de fazendeiros tem sido violenta.
Veja mais notícias do estado no g1 Bahia.
Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia